O realizador português Rui Simões vai estrear a 25 de abril a longa-metragem “Primeira Obra”, o seu primeiro filme de ficção em 50 anos de carreira e 80 de vida, anunciou esta terça-feira a produtora Real Ficção.

“Primeira Obra” é um filme de ficção, mas também é autobiográfico, tendo como ponto de partida um dos primeiros documentários de Rui Simões, “Bom Povo Português”, de 1980.

No filme, há um jovem investigador lusodescendente, Michel, que chega a Portugal para “pesquisar a revolução por cumprir. […] Em conversa com Simão, histórico cineasta, Michel procura respostas para o seu filme. Ao conhecer Susy, ativista do ambiente, percebe que o amor é o caminho”, refere a sinopse.

O elenco de “Primeira Obra” integra Zé Bernardino, Ulé Baldé, Joana Brandão, Maty Galey, entre outros, e ainda o ator António Fonseca, num ‘alter ego’ do próprio Rui Simões.

Esta longa-metragem contou com apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual em 2020, depois de 40 anos de tentativas de Rui Simões em conseguir financiamento para um filme de ficção.

“Não me posso queixar, gosto muito de fazer documentários, mas tenho pena de nunca ter feito ficção. Tenho pena de não ter conhecido os atores portugueses, não ter conhecido esse lado criativo que me foi impedido. Foi triste estar no cinema e não poder trabalhar com os criativos, com os atores. Esse lado no documentário não existe”, contou o realizador à agência Lusa em 2020.

Autor de documentários como “Deus, Pátria, Autoridade” (1975), “Bom povo português” (1980), “Ruas da amargura” (2008), “Ilha da Cova da Moura” (2010), “Guerra ou Paz” (2012) e “No país de Alice” (2021), Rui Simões cumpre 80 anos no próximo dia 20 de março.

O aniversário de vida e o dos 50 anos de carreira vão ser comemorados naquele dia, com uma exibição de “Primeira Obra” na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.

Rui Simões nasceu em Lisboa em 1944, estudou História, Cinema e Televisão, viveu na Bélgica e em França e regressou a Portugal em maio de 1974, tendo feito, dois anos depois, o documentário “Deus, Pátria, Autoridade” (1976).

No filme “Guerra ou Paz”, de 2012, no qual aborda a situação de milhares de portugueses refratários e desertores da guerra colonial, Rui Simões conta também a sua própria história de exílio, de regresso ao país e de um tempo em que fez ballet, teve uma pequena agência de publicidade e foi agente dos Sheiks.

Depois de ter também trabalhado na produção da exposição universal Expo’98, Rui Simões fundou em 2002 a produtora de cinema e audiovisual Real Ficção, que mantém até hoje.

Em 2022, quando estreou o filme “No país de Alice” e já preparava “Primeira Obra”, Rui Simões disse que tinha em mão um outro projeto de documentário “muito ambicioso” e intimamente ligado à sua relação com o cinema e aos anos em que disse ter ficado “de castigo”, sem ter apoios para filmar, por ter feito “Bom Povo Português” (1980).

“O filme mexe com toda a gente, é muito crítico em relação à história do 25 de Abril [de 1974], a todos os partidos políticos e forças policiais. Embora seja o retrato da revolução e hoje considerado o grande filme da revolução, na altura foi muito mal interpretado pelos senhores do poder, fossem eles de esquerda ou de direita. Acabo por ser penalizado e durante aqueles 20 anos acabei por não conseguir apoio nenhum para nenhum tipo de filme, nem documentário nem ficção. Foi um castigo violento, muito forte”, lembrou.