Um dos maiores símbolos do 25 de Abril, Fernando Salgueiro Maia nasceu a 1 de julho de 1944, em Castelo de Vide. Fez campanhas militares em Moçambique e na Guiné-Bissau, tendo ascendido ao posto de capitão em 1971. Como delegado da Arma de Cavalaria, fez parte da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA).
O momento que o tornou famoso foi no dia 25 de abril de 1974 quando comandou a coluna militar que partiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, ocupou a Praça do Comércio, cercou o Quartel do Carmo, em Lisboa e levou à rendição de Marcello Caetano, o presidente do governo.
“Salgueiro Maia – O Implicado” é uma obra sobre um homem nostálgico, desiludido com a vida e com o país que ajudou a libertar; muito mais do que sobre o herói do 25 de Abril. Descobrimos a juventude e alguns “flashbacks” da infância de Salgueiro Maia: filho único e órfão pois perdeu a mãe num acidente quando tinha apenas 4 anos de idade.
A imagem de anti-herói de Salgueiro Maia sai reforçada deste filme que, assim, vai contribuir para aumentar a admiração que a maioria dos portugueses nutre por aquele que já é o mais unânime capitão de Abril.


A principal qualidade transmitida pelo filme é a honestidade. Além de determinado, trabalhador e inteligente, Salgueiro Maia é sobretudo íntegro. A morte prematura do militar acabou por ajudar a cultivar essa imagem impoluta que o filme retoma e desenvolve.
Mas a maior virtude de “Salgueiro Maia – O Implicado” é a sua vertente pedagógica. O filme de Sérgio Graciano é talvez o melhor serviço que o cinema fez à memória do 25 de Abril junto das novas gerações, mostrando de forma quase hollywoodesca um momento maior da nossa história através da vida pessoal de um homem.
O filme realizado por Sérgio Graciano tem argumento de João Lacerda de Matos, mas inspira-se no livro “Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade”, uma biografia assinada por António de Sousa Duarte e que é aceite pela família do capitão de abril como a sua “biografia oficial”.
Filipa Areosa é Natércia, a esposa de Salgueiro Maia, enquanto que Tomás Alves é o capitão de Abril. A própria atriz reconhece o aspeto pedagógico do projeto, tendo declarado que aprendeu muito com a história que o filme retrata e que “é importante que todos conheçam o que se passou a seguir, o que se passou antes, o porquê, o como e o lado destas pessoas”.
Antes e durante as filmagens, Filipa Areosa deveria ter sido acompanhada e aconselhada por Natércia Maia, esposa de Salgueiro Maia e figura que interpreta, mas a pandemia acabou por limitar os intercâmbios. Apesar das limitações, a atriz destacou o feedback dado por Natércia, bem como a alegria e emoção que demonstrou ao ver a gravação do casamento de ambos. O resultado final do trabalho de Filipa Areosa é notável, transmitindo a energia e a espontaneidade de Natércia Maia.
O ator Tomás Alves está bastante parecido com Salgueiro Maia, assinando uma interpretação de qualidade, demonstrando o carisma e uma profunda nostalgia do militar de Abril.
Para os dois atores, e outros membros do elenco, não deve ser nada fácil representar figuras tão emblemáticas assim como momentos da História de Portugal que – apesar de recentes – aconteceram antes deles nascerem.
“Salgueiro Maia – O Implicado” é uma terna e pedagógica história baseada em factos históricos, relatos pessoais, revelações íntimas, emoções reais de quem acompanhou de perto o percurso de Salgueiro Maia, ao longo da sua infelizmente curta vida. É o outro lado de uma personagem, que se tornou mítica, mas que o filme descreve como alguém de normal como homem, como estudante, como militar, como pai, como amigo e como marido.
O filme “Salgueiro Maia – O Implicado” estreou em Portugal no dia 14 de abril e teve a sua estreia mundial (fora de Portugal) no Luxemburgo no dia 25 de Abril, no contexto do Cineclube Português, e na presença da filha de Salgueiro Maia, Catarina.
Depois de lançado nas salas de cinema, a RTP propõe a história em formato de minissérie.

“Salgueiro Maia – O Implicado” de Sérgio Graciano, com Tomás Alves, Filipa Areosa, Gabriela Barros, Rúben Gomes, Catarina Wallenstein, Tiago Teotónio Pereira e Nádia Santos.

Raúl Reis