Até a imprensa estrangeira delira com o filme de Miguel Cadilhe, que traz de volta Quim Roscas e Zeca Estacionâncio.
Em Portugal o filme “Curral de Moinas: Os Banqueiros do Povo” bateu recordes de público este verão. É um dos maiores êxitos de bilheteira de sempre e até a imprensa estrangeira delira com o filme de Miguel Cadilhe.
O impoluto The New York Times, por exemplo, diz: “esta obra segue na esteira de um cinema existencialista que já não tinha herdeiros e que aqui descobre um primo afastado português”. E o jornal norte-americano continua dizendo que o filme luso é “tão obrigatório como comer uma paelha em Lisboa” (confundindo certamente Portugal com Espanha, mas o importante aqui é o elogio).
O histórico Les Cahiers du Cinéma também não deixou de cobrir de flores “Curral de Moinas: Os Banqueiros do Povo”. “A exegese da potencialidade abstrata da obra contrapõe-se com a neutralidade epistemológica do sincretismo com que os protagonistas dizem palavrões, numa clara declaração de superioridade imoral, numa tendência woke que se confirma nas cenas de sexo”, considera a revista francesa, concluindo em português: (ou quase): “trata-se de uma obra de referência como não há uma outra ao Portugal”.
Também várias revistas dedicadas à comunidade gay se dedicaram a analisar a relação entre os dois protagonistas do filme. A prestigiada Siegessäule, publicação alemã, acredita por exemplo que a relação criada pelos argumentistas entre Quim e Zeca são claramente de índole sexual e que “Curral Von Moinen – Die Banker Von KaisersLeuten” (assim se chama a obra no país vizinho) é um passo importante na assunção da homossexualidade num contexto de ruralidade.
Poderia passar aqui horas a citar as excecionais críticas que o filme de Miguel Cadilhe, com a dupla Quim Roscas e Zeca Estacionâncio como protagonistas, obteve em todo o mundo. Além do filme, também os seus atores são elogiados pela crítica e pelo público, tendo-se registado várias manifestações em alguns países com jovens fãs excitadas da dupla Roscas-Estacionâncio, a pedirem que João Paulo Rodrigues e Pedro Alves lhes façam filhos ou a solicitarem que eles lhes tirem as camisolas, rasgando-as em tiras fininhas.
Este vosso crítico de fim de semana acredita que “Curral de Moinas: Os Banqueiros do Povo” é mais uma etapa na cruzada portuguesa dedicada a ressuscitar a comédia popular e a atrair o grande público para as salas de cinema portuguesas.
“Curral de Moinas: Os Banqueiros do Povo”, de Miguel Cadilhe, volta a contar as aventuras e desventuras da dupla de pacóvios Zeca (Pedro Alves) e Quim (João Paulo Rodrigues) da aldeia de Curral de Moinas, onde todos parecem viver felizes sem problemas de igualdade entre homens e mulheres, sem #metoo e sem escolaridade obrigatória.
O enredo desta segunda aventura no cinema da dupla de Telerural, sucesso de audiências da RTP, também confecionado por Miguel Cadilhe, leva-os a Cascais, no meio das tias e de gente rica, pois Quim é, afinal, herdeiro de um milionário dono do banco Bico.
Subitamente, vê-se a viver com os amigos numa mansão e a ser tentado pela vida com dinheiro, mesmo que pela calada há quem se queira aproveitar da sua ingenuidade.
Miguel Cadilhe, que já produziu Manoel de Oliveira, recusa a ideia de que o filme é pimba, como alguns energúmenos lhe chamaram.
Os criadores da obra acham que Quim e o Zé são básicos, à sua maneira, mas são sobretudo puros. Cadilhe acha que essa pureza universal faz com que o bem prevaleça – e isso é a mensagem mais forte do filme – apesar de terem coisas muito, mas muito portuguesas.
“Curral de Moinas: Os Banqueiros do Povo” é uma história com várias camadas e fala de coisas sérias também, mesmo sendo uma comédia de uma ponta à outra. Tem dramas, reviravoltas, romance e um bocadinho de muita coisa. E é claro que fala também de corrupção na banca e dos banqueiros que roubam.
O filme está no Luxemburgo a partir de 2 de novembro nos cinemas Kinepolis Kirchberg e Belval pela mão do Cineclube Português do Luxemburgo e Bélgica.
“Curral de Moinas: Os Banqueiros do Povo”, de Miguel Cadilhe, com Pedro Alves, João Paulo Rodrigues, Sofia Ribeiro, Rui Unas e Rui Mendes.
Raul Reis